Entrevista com Fabbio Cortez
Perguntas de LEILA MÍCCOLIS
(escritora de livros, cinema e tevê)
LM – Fabbio, onde você nasceu?
FC - Sou carioca, cresci e vivo no subúrbio do Rio de Janeiro (entre Vila Valqueire e Bento Ribeiro).
LM – Reside ou residiu em outros lugares? Conhece outros países? Quais?
FC - Vivi entre 1986 e 1988 no interior de São Paulo, estudando. Há uns anos, divido-me entre Rio e São Paulo. Mas sabe? cá para nós, entendo-me cidadão do mundo, pois somos todos irmãos, nascidos no mesmo planeta, cada um sendo sorteado a abrolhar em algum ponto do globo. Sobre outros países, já estive a turismo nos EUA, na Argentina e em Portugal.
LM – Você tem dois filhos. Fale um pouco sobre eles e o amor pelos dois.
FC - Sou pai de Marianna e Fabbio Gabriel (umas figuraças, superamados além da conta). O amor para mim é espiritual. Embora, como todo ser humano, esteja ligado a pessoas na forma física, compreendo o amor numa dimensão muito mais profunda. E eterna: amor verdadeiro é metafísico e permanente, é Amor com “A” maiúsculo, é Amor Ágape.
LM – Você editou pela editora Blocos...
FC - Pela querida Blocos tive a honra de integrar as antologias digitais I, IV e X da “Saciedade dos Poetas Vivos”, além de ter tido publicado o livro eletrônico PerVersos Urbanos.
LM - Quais suas outras ocupações e preocupações, além da Literatura?
FC - Trabalhei com gestão pela qualidade no serviço federal, fui concomitantemente professor particular de língua portuguesa e faço copidesque e revisão de textos. Componho também. E canto. Aliás este é meu dom precípuo, entretanto por timidez ou perfeccionismo, mesmo recebendo convites durante a vida, jamais dei passos concretos na área – quem sabe um dia... Preocupo-me com para onde o ser humano está caminhando, sendo cada vez mais violento, egoísta, sem ética, sem misericórdia. Entristeço-me demais com isso.
LM - Do que você se arrepende mais na vida? E do que você mais se vangloria?
FC – Olha... ar-re-pen-di-men-to... Palavra aguda, espada afiada e finíssima. Exatamente em relação ao dito na última resposta, sinto bastante não ter tido mais ousadia em relação a minha voz. Onde quer que eu cante, sem falsa modéstia, veem-me com destaque e, recebendo sempre elogios de gente que entende, acabamos por acreditar na coisa. Mas, mesmo tendo mexido com a área no ápice da juventude, nunca tive coragem suficiente para ir adiante, tentar algo mais palpável. Assisti a uma entrevista em que a atriz Guta Strasser dizia da diferença entre talento e vocação. Perfeito. Não adianta ter talento se você não tiver o chamado irresistível, aquele em que não importa que lhe digam “não” milhões de vezes, você vai em frente até conseguir, ou morre tentando. Vanglorio-me de ter construído uma família bacana. Além disso, orgulho-me de ser amigo sem segundas intenções, do tipo que não quer nada em troca, somente a sinceridade, buscando ser o mais verdadeiro possível (obviamente com as pessoas especiais, a quem essa entrega valha a pena).
LM - Como você definiria sua obra?
FC - Fora algumas antologias no Brasil e uma em Portugal, tenho um livro poético publicado pela Oficina Editores, prefaciado pela multifacetada Leila Míccolis (você!), o que me dá muito orgulho. É intitulado “Público Cativo” e trata do humano, portanto do eterno e do etéreo, da solidão à universalidade. Quanto à prosa, tenho escrito minhas linhas, e tenho livros de contos publicados e um tira-dúvidas de português, além de opúsculos. Quando as palavras me liberarem de suas garras, talvez tente a publicação de outras coisas.
LM - Algum esporte? Alguma mania?
FC - Sempre fui perna-de-pau, braço-de-pau, cara-de-pau. Sério. Dá até vergonha de dizer isso como homem brasileiro, que geralmente é vidrado em futebol. O único esporte em que me sobressaí – e só um pouco – foi patinação na infância, na rua, depois no gelo. Caminhar, correr e andar de bicicleta também é bom. Mania só mesmo a de enfiar-me em livrarias e bibliotecas e ficar lá duas, três, quatro horas. Até somente olhar as capas dos livros me dá prazer.
LM - Cite seus autores, músicas e filmes inesquecíveis.
FC - Autores: a prosa de Machado (mais maduro) e Azevedo em “O cortiço” considero irretocáveis; o bálsamo de liberdade de Henri Charrièrre em “Papillon” e “Banco”, confesso, devo ter lido umas dez vezes cada, mesmo não sendo considerados “literatura” e alguns desconfiarem de sua autenticidade total; os contos de Poe, Twain, Tchekhov e por aí vai. Concernente à poesia, a viagem de Neruda “confesso que vivi” e vivo; Pessoa, com seus múltiplos eus, é fabuloso; dos novos brasileiros, Carpinejar é inteligentíssimo. Música: Bach disparado, depois a profundidade de Chopin. Aí vem Beethoven, Mozart, Wagner. No Jazz, Charles Mingus, Duke Ellington, David Sanborn e o todo jazzístico (não gosto muito de vocal); do Brasil, algo de Chico, Flávio Venturini, Beto Guedes. Música inesquecível: ária da suíte 3 de João Sebastião Bach. Filmes: Um sonho de liberdade; no Brasil, creio que até agora não se fez nada melhor do que Cidade de Deus. Fora esses, A bruxa de Blair, o primeiro (o II queimou o I); e confesso gostar das maluquices do Senhor dos Anéis.
LM - Alguma experiência engraçada, curiosa ou dramática ocorrida devido à algum texto (poesia ou prosa) que você escreveu?
FC - Uma dramática: fui declamar um poema na Bienal, no estande da APPERJ, e deu branco; não sabia nem mesmo meu nome. Ainda bem me veio de súbito um outro poema pequeníssimo, que declamei lentamente e cheio de impostação para disfarçar o pânico.
LM - Vida e obra precisam caminhar juntas ou podem tomar rumos diferentes e até contraditórios?
FC - Creio que a Literatura possa ter vida própria. Experiência e criação são vivências de qualquer modo, todas as coisas são reais no Eterno.
LM - Entre aquela viagem ou aquele carro que você tanto sonhou e a publicação de seu livro com tiragem de 10.000 exemplares, qual dos dois você escolheria?
FC - Dessas opções (se você não for nosso simpático e bem-sucedido Paulo Coelho de Souza), acho que o mais difícil de se conquistar mesmo é ser best–seller, principalmente no Brasil. Mas fico ainda com este, o desejo mais difícil: deve ser um prazer ser comprado por quem você nem nem conhece, lido, entendido.
LM - Que personagem de ficção você gostaria de ser na vida real?
FC - Não me vem nenhum personagem em especial à mente. De todo modo, sem hipocrisia, mesmo com alguns defeitos, gosto de ser quem sou. Ah, lembrei um agora: imaginaria ser o Mr Darcy, em Orgulho e Preconceito (de Jane Austin).
LM - Você já cometeu alguma gafe ou indiscrição literária?
FC - De quando em vez, como não gosto de autores de prosa difícil, rebuscada, se me perguntam sobre os tais, acabo falando não muito bem de gente consagrada. E tipo assim, algumas pessoas devem pensar: “quem é você para falar mal de...?” Pior que é, né? (risos). O certo mesmo é guardarmos nossa opinião.
LM - Você comemora o Dia Nacional da Poesia ou do Livro? De que forma?
FC - Sinceramente? Passo batido. Não sou muito afeito a datas. Quando tenho de comemorar algo, faço-o aleatoriamente, durante a vida.
LM - Que autora ou autor você escolheria para ficar a sós numa ilha deserta e por quê?
FC - Marianna Cortez, minha filha, segundo lugar na feira do livro 2008 de sua escola com o livro “A menina que nunca viu o mar” (engraçado, o título tem a ver com ilha), e meu filho, Fabbio Gabriel, que também escreve coisas bacanas. Nem preciso dizer por que os escolheria.
LM - Qual seria (ou será) a maravilha do século 21?
FC - A tecnologia sendo usada para acabar com a miséria geral. É inadmissível tanto estudo e investimento para ir a Marte, enquanto pessoas, inclusive crianças, morrem à míngua no mundo. Além disso, seria fantástico se cada pessoa tomasse conta de sua própria vida, respeitando o próximo e sendo feliz de forma intrínseca, por escolha própria, deixando os demais também serem felizes e livres
(escritora de livros, cinema e tevê)
LM – Fabbio, onde você nasceu?
FC - Sou carioca, cresci e vivo no subúrbio do Rio de Janeiro (entre Vila Valqueire e Bento Ribeiro).
LM – Reside ou residiu em outros lugares? Conhece outros países? Quais?
FC - Vivi entre 1986 e 1988 no interior de São Paulo, estudando. Há uns anos, divido-me entre Rio e São Paulo. Mas sabe? cá para nós, entendo-me cidadão do mundo, pois somos todos irmãos, nascidos no mesmo planeta, cada um sendo sorteado a abrolhar em algum ponto do globo. Sobre outros países, já estive a turismo nos EUA, na Argentina e em Portugal.
LM – Você tem dois filhos. Fale um pouco sobre eles e o amor pelos dois.
FC - Sou pai de Marianna e Fabbio Gabriel (umas figuraças, superamados além da conta). O amor para mim é espiritual. Embora, como todo ser humano, esteja ligado a pessoas na forma física, compreendo o amor numa dimensão muito mais profunda. E eterna: amor verdadeiro é metafísico e permanente, é Amor com “A” maiúsculo, é Amor Ágape.
LM – Você editou pela editora Blocos...
FC - Pela querida Blocos tive a honra de integrar as antologias digitais I, IV e X da “Saciedade dos Poetas Vivos”, além de ter tido publicado o livro eletrônico PerVersos Urbanos.
LM - Quais suas outras ocupações e preocupações, além da Literatura?
FC - Trabalhei com gestão pela qualidade no serviço federal, fui concomitantemente professor particular de língua portuguesa e faço copidesque e revisão de textos. Componho também. E canto. Aliás este é meu dom precípuo, entretanto por timidez ou perfeccionismo, mesmo recebendo convites durante a vida, jamais dei passos concretos na área – quem sabe um dia... Preocupo-me com para onde o ser humano está caminhando, sendo cada vez mais violento, egoísta, sem ética, sem misericórdia. Entristeço-me demais com isso.
LM - Do que você se arrepende mais na vida? E do que você mais se vangloria?
FC – Olha... ar-re-pen-di-men-to... Palavra aguda, espada afiada e finíssima. Exatamente em relação ao dito na última resposta, sinto bastante não ter tido mais ousadia em relação a minha voz. Onde quer que eu cante, sem falsa modéstia, veem-me com destaque e, recebendo sempre elogios de gente que entende, acabamos por acreditar na coisa. Mas, mesmo tendo mexido com a área no ápice da juventude, nunca tive coragem suficiente para ir adiante, tentar algo mais palpável. Assisti a uma entrevista em que a atriz Guta Strasser dizia da diferença entre talento e vocação. Perfeito. Não adianta ter talento se você não tiver o chamado irresistível, aquele em que não importa que lhe digam “não” milhões de vezes, você vai em frente até conseguir, ou morre tentando. Vanglorio-me de ter construído uma família bacana. Além disso, orgulho-me de ser amigo sem segundas intenções, do tipo que não quer nada em troca, somente a sinceridade, buscando ser o mais verdadeiro possível (obviamente com as pessoas especiais, a quem essa entrega valha a pena).
LM - Como você definiria sua obra?
FC - Fora algumas antologias no Brasil e uma em Portugal, tenho um livro poético publicado pela Oficina Editores, prefaciado pela multifacetada Leila Míccolis (você!), o que me dá muito orgulho. É intitulado “Público Cativo” e trata do humano, portanto do eterno e do etéreo, da solidão à universalidade. Quanto à prosa, tenho escrito minhas linhas, e tenho livros de contos publicados e um tira-dúvidas de português, além de opúsculos. Quando as palavras me liberarem de suas garras, talvez tente a publicação de outras coisas.
LM - Algum esporte? Alguma mania?
FC - Sempre fui perna-de-pau, braço-de-pau, cara-de-pau. Sério. Dá até vergonha de dizer isso como homem brasileiro, que geralmente é vidrado em futebol. O único esporte em que me sobressaí – e só um pouco – foi patinação na infância, na rua, depois no gelo. Caminhar, correr e andar de bicicleta também é bom. Mania só mesmo a de enfiar-me em livrarias e bibliotecas e ficar lá duas, três, quatro horas. Até somente olhar as capas dos livros me dá prazer.
LM - Cite seus autores, músicas e filmes inesquecíveis.
FC - Autores: a prosa de Machado (mais maduro) e Azevedo em “O cortiço” considero irretocáveis; o bálsamo de liberdade de Henri Charrièrre em “Papillon” e “Banco”, confesso, devo ter lido umas dez vezes cada, mesmo não sendo considerados “literatura” e alguns desconfiarem de sua autenticidade total; os contos de Poe, Twain, Tchekhov e por aí vai. Concernente à poesia, a viagem de Neruda “confesso que vivi” e vivo; Pessoa, com seus múltiplos eus, é fabuloso; dos novos brasileiros, Carpinejar é inteligentíssimo. Música: Bach disparado, depois a profundidade de Chopin. Aí vem Beethoven, Mozart, Wagner. No Jazz, Charles Mingus, Duke Ellington, David Sanborn e o todo jazzístico (não gosto muito de vocal); do Brasil, algo de Chico, Flávio Venturini, Beto Guedes. Música inesquecível: ária da suíte 3 de João Sebastião Bach. Filmes: Um sonho de liberdade; no Brasil, creio que até agora não se fez nada melhor do que Cidade de Deus. Fora esses, A bruxa de Blair, o primeiro (o II queimou o I); e confesso gostar das maluquices do Senhor dos Anéis.
LM - Alguma experiência engraçada, curiosa ou dramática ocorrida devido à algum texto (poesia ou prosa) que você escreveu?
FC - Uma dramática: fui declamar um poema na Bienal, no estande da APPERJ, e deu branco; não sabia nem mesmo meu nome. Ainda bem me veio de súbito um outro poema pequeníssimo, que declamei lentamente e cheio de impostação para disfarçar o pânico.
LM - Vida e obra precisam caminhar juntas ou podem tomar rumos diferentes e até contraditórios?
FC - Creio que a Literatura possa ter vida própria. Experiência e criação são vivências de qualquer modo, todas as coisas são reais no Eterno.
LM - Entre aquela viagem ou aquele carro que você tanto sonhou e a publicação de seu livro com tiragem de 10.000 exemplares, qual dos dois você escolheria?
FC - Dessas opções (se você não for nosso simpático e bem-sucedido Paulo Coelho de Souza), acho que o mais difícil de se conquistar mesmo é ser best–seller, principalmente no Brasil. Mas fico ainda com este, o desejo mais difícil: deve ser um prazer ser comprado por quem você nem nem conhece, lido, entendido.
LM - Que personagem de ficção você gostaria de ser na vida real?
FC - Não me vem nenhum personagem em especial à mente. De todo modo, sem hipocrisia, mesmo com alguns defeitos, gosto de ser quem sou. Ah, lembrei um agora: imaginaria ser o Mr Darcy, em Orgulho e Preconceito (de Jane Austin).
LM - Você já cometeu alguma gafe ou indiscrição literária?
FC - De quando em vez, como não gosto de autores de prosa difícil, rebuscada, se me perguntam sobre os tais, acabo falando não muito bem de gente consagrada. E tipo assim, algumas pessoas devem pensar: “quem é você para falar mal de...?” Pior que é, né? (risos). O certo mesmo é guardarmos nossa opinião.
LM - Você comemora o Dia Nacional da Poesia ou do Livro? De que forma?
FC - Sinceramente? Passo batido. Não sou muito afeito a datas. Quando tenho de comemorar algo, faço-o aleatoriamente, durante a vida.
LM - Que autora ou autor você escolheria para ficar a sós numa ilha deserta e por quê?
FC - Marianna Cortez, minha filha, segundo lugar na feira do livro 2008 de sua escola com o livro “A menina que nunca viu o mar” (engraçado, o título tem a ver com ilha), e meu filho, Fabbio Gabriel, que também escreve coisas bacanas. Nem preciso dizer por que os escolheria.
LM - Qual seria (ou será) a maravilha do século 21?
FC - A tecnologia sendo usada para acabar com a miséria geral. É inadmissível tanto estudo e investimento para ir a Marte, enquanto pessoas, inclusive crianças, morrem à míngua no mundo. Além disso, seria fantástico se cada pessoa tomasse conta de sua própria vida, respeitando o próximo e sendo feliz de forma intrínseca, por escolha própria, deixando os demais também serem felizes e livres
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