Obs.: a primeira edição física (em papel) foi publicada pela Oficina Editores, Rio de Janeiro, 2007, e lançada na XIII Bienal Internacional do Livro no mesmo ano.
Público Cativo
Obs.: a primeira edição física (em papel) foi publicada pela Oficina Editores, Rio de Janeiro, 2007, e lançada na XIII Bienal Internacional do Livro no mesmo ano.
Ficha catalográfica
Copyright © 2007, Fabbio Cortez
Todos os direitos reservados e assegurados pela Lei 9.610/98
Capa
OFICINA Editores e Jean Moretto sobre ideia do autor
Diagramação
Sérgio Gerônimo
Revisão
O autor
__________________________________________________
C828p Cortez, Fabbio. Rio de Janeiro.
Público Cativo. Rio de Janeiro: OFICINA Editores, 2007.
100 p. ; 21 cm
ISBN 85-98285-41-2
1. Literatura brasileira – Poesia. I. Título
CDD B869.1
869.91
__________________________________________________
OFICINA Editores
Av. Mal Henrique Lott, 270/1406
CEP: 22631-370 - Rio de Janeiro - RJ
oficinaeditores@oficinaeditores.com.br
www.oficinaeditores.com.br
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
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Diagramação
Sérgio Gerônimo
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O autor
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C828p Cortez, Fabbio. Rio de Janeiro.
Público Cativo. Rio de Janeiro: OFICINA Editores, 2007.
100 p. ; 21 cm
ISBN 85-98285-41-2
1. Literatura brasileira – Poesia. I. Título
CDD B869.1
869.91
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Dedicatória-resumo
aos atuais
e futuros
amigos verdadeiros*
*Ver dedicatória completa no final do livro
.
e futuros
amigos verdadeiros*
*Ver dedicatória completa no final do livro
.
Poema de abertura
.
.
Se observarmos bem,
temos sempre quem nos admire,
quem nos ame,
quem goste um pouco de nós.
Vá lá,
ao menos quem nos suporte.
Um público cativo,
mesmo que pequeníssimo.
Distraído
e
sono
lento
toda manhã beijo minha boca.
.
.
Se observarmos bem,
temos sempre quem nos admire,
quem nos ame,
quem goste um pouco de nós.
Vá lá,
ao menos quem nos suporte.
Um público cativo,
mesmo que pequeníssimo.
Distraído
e
sono
lento
toda manhã beijo minha boca.
.
Prefácio
Cativar sem Cativeiros
Na mestria com que lida com metáforas, e na fluência com que transita por elas, fica expostamente visível o quilate da obra. Fabbio Cortez começa de onde muito poeta nem sequer imaginou aproximar-se. Sua poesia é um belo artesanato, que não enfeita apenas: questiona. Cativa, sem cativeiros. Prende a atenção do leitor, sem prendê-lo à rigidez de verdades absolutas e fórmulas fáceis. Abre um leque de possibilidades interpretativas, todas lúcidas e instigantes, desde a nomeação da divisão das partes: um (controverso) - mais de um (solidão perdida) - além do mais (ruas da vida/universos).
“Resgatei” (livrei do cativeiro do anonimato) as palavras entre parênteses, que estavam na versão original, com o intuito de assinalar a bela travessia do autor por sua própria obra: passo a passo ele vai do um – totalmente controverso (até aqui há controvérsias...) ou contra-verso (no sentido da direção contrária do convencional) – ao mais um (em que, dialeticamente, a perda da solidão corresponde a um “mais”, a um ganho afetual) – até chegar a percorrer as ruas do mundo, repletas de outros universos paralelos, para além do um e do mais de um; nesse caminhar, acompanhamos os sutis questionamentos da poiesis, ou seja, o agir da poesia, atuando em todos os tempos, espaços e lugares, fertilizando a essência do planeta.
Esteticamente, a poética de Cortez opta muitas vezes por neologismos, criações linguísticas que, ao juntarem duas palavras criando uma terceira, inventam conotações exclusivas, originalíssimas, espécies insigts, através das quais a poesia desfamiliariza chavões e estereotipias cotidianas que dificultam/impedem o pensamento crítico. O efeito de estranhamento, que nos leva à reflexão, dá-se também pelo uso de instigantes metáforas, de substantivos tornados verbos e de impactantes figuras de linguagem. Através dessas técnicas, o poeta introduz sua ironia (tropo retórico) poética, joga com a língua – no sentido barthesiano –, rompendo com uma lírica que, em vez de conscientizar, agride, sufoca e fragmenta o indivíduo. Exemplo:
(...) a dor destoutro ser e era eu...
– Dest-outro: belíssima elisão-fusão, tão pouco usada, lembrando-nos desse outro desconhecido que ignoramos, mas que vive em nós. Quais os trágicos anseios desse duplo que não é formado de duas palavras ou de dois seres, mas de um único, chocado e chocando-se contra a multiplicidade de direções, contradições e contra-dicções? O poeta capta o ser debatendo-se. O debate do ser.
No entanto, Cortez usa esses recursos com parcimônia, nos momentos exatos; sabe que não precisa abusar deles para que se perceba a marca de sua poesia. Quem escreve um vou comprar um relógio novo, ou um ampulheto, um raro, uma cercania, um sou então teu copo d’água, um ardentes, uma máquina de ferrugem doce, um sashimi (in)sensível, um o ser e o ser de minhas carótidas teimosas, um pirilampos relâmpagos e tantos e tantos e tantos outros mais, mostra o quanto entende de pathos, das paixões do mundo. Lendo, como que voltamos a acreditar na profunda revolução que o sensório promove através da poesia – que, afinal, é a carne, o cerne e a essência de todas as linguagens.
Por maior que seja, qualquer espaço é mínimo para descrever a fortíssima impressão que essa obra me causou e continua me causando. Melhor então que eu pare por aqui e deixe você viajar através das janelas abertas em cada página, descortinando o véu que encobre a realidade das emoções e intenções humanas. No final da leitura, você vai descobrir – igual a mim – que diante desse primeiro livro já estamos diante de um excelente poeta.
Leila Míccolis
Escritora de livros, cinema, teatro, TV
e co-editora do portal Blocos Online de Literatura
.
Um
As idiossincrasias do tempo
Ontem,
se amanhã eu vir minha cara dura no espelho,
atiro hoje no tempo a queda,
a ruga soturna,
a tossir minha prospectiva falta de ar.
E serei-fui sempre um fantasma do tempo
saído de cismas,
fadado a falácias,
caído em sofismas,
nas armadilhas dos dias de sempre.
_______
Complexo de igualdade
Quem sabe serei ainda meio nada,
repousando nu no movimento gago da vida?
A serenidade,
a normalidade
são muito complicadas
pra minha cabeça.
Vesti regozijante a poesia,
que me serviu como malha elástica.
_______
Ileso
a casa caiu
e eu estava dentro
da rua
ainda bem
a rua ruiu
e eu estava fora
de mim
ainda
______
Limítelis
1 A meta
Correndo faço planos nas esquinas do céu,
sempre sozinho
pretendo seguir como voam românticos,
colhendo estrelas da rua
na procura do teu ar, da tua pista,
dizendo pela cor da tua voz,
pela textura da tua tez, vou,
sairei em viagem,
saboreando os elementos,
muito mais que cinco,
ventando o cheiro do fogo que lambe teus olhos,
que dissemina da terra teus cabelos de água.
2 Fraqueza
Mas não penses que sou ingênuo,
pois que sou fraco.
E bem sei que é preciso ser forte
para ser ingênuo.
3 Alimento
A imagem que transborda do teu minério
delirante
é delícia.
Do pensamento que dilacero na tua boca
ferrosa em doce moderno
- fruta suculenta que dá força -
alimentar-me-ei,
catando perfeições simples da vida,
sarando o caminho da busca.
4 A partida
Parto em ciclos, corro, escorro, salivando
esse açúcar compulsivo,
atiro-me à tua feminina seiva torpe
nu:
alucinadas, voadoras mãos de defesa,
irregularidades da terra, raízes,
música da noite,
insetos da noite,
esperam secos
por minha cara estúpida:
esbofeteiam-me quando passo, mas não sinto
meus fios encravados da barba por fazer:
(grato por isso, sangue fervilhante da jornada!)
5 Deliberações da morte
Corro,
morro,
desmorro, desembesto para o amor,
esgotando os músculos da psique
ao lembrar que não toquei teus pelos todos
sequer
do modo levíssimo
como poderia ter tocado,
com toda a sensibilidade do mundo (um mudo)
(a que me foi dada de presente como dom especial
e de que tu nem conheceste a amostra de cílio):
demais te amo demais ainda, e mais:
de tanta querença e tão, tão sério apego,
dilacerantemente surdo adesivo de derme,
como verme até morri,
convenceu-me a morte
pela sorte distraída.
Preferi morrer, mas não paro:
ao faro da saída, corro!
6 A travessia
Então, na fronteira que a razão refaz
com o tal do amor
atravesso-me sublimado: muro alto invisível,
intransponível para alguns sentimentos menores.
Agora vivo do outro lado
desse véu, na imagem turva,
desconectando forças e pedras mágicas
dos meus restantes olhos,
reconstruindo-me
lá
onde o desespero encontra o sublime e o perfeito,
mesmo a calma inexplicável,
num equilíbrio raro impossível-possível
7 Comiseração
Assisto com tristeza – é verdade – à perdição
incomensurável,
a dor destoutro ser e era eu:
fito-o lá, morto, cantando a morte
num grito de voz escura cravado de silêncios
sentinela cega num charco estranho.
Não o poupou a dor,
humilhando-o,
extinguindo-o
na solidão estagnadamente lavada
– vergonha e covardia –,
sentado nas pernas fracas formigando,
invadido de sete mil vazios
e de outros tantos medos,
soluçando na aspereza com que cobre o rosto.
8 O retorno
Ainda bem consegui deixar-me,
não quis saber, abandonei-me:
a vida já é muito difícil,
cada um com sua bactéria imponente!
(o mais perfeito e novo dos sentidos
não se me apresenta):
meneio a cabeça e esfrego a cara:
“dane-se esse otário!”
Desfaço a cena e volto adiante:
9 As horas
Outra pressa me persegue,
vive correndo
desenfreadamente
atrás de uma geografia sensitiva
em que em me perca ao revés.
Mas horas covardes
– não todas, mas as covardes –
fazem-me tropeçar no espaço-tempo-ironia.
10 O despertar
Acordei na megalópole:
se passares na minha frente
agarrar-te-ei como animal selvagem
_______
Vou comprar um relógio novo
Deveria estar vivendo
cinquenta anos atrás pelo menos.
Nunca sou moderno o suficiente,
sou sempre ridículo
(transtornos e retornos
de um pequeno menino complacente),
e essa adaptação forçada me irrita:
obrigam-me a correr
de desespero,
cruzar sinais vermelhos
(os amarelos são sempre ridículos
como eu),
capotar, voar, tremer.
E nem estou com pressa.
_______
Ampulheto
esqueço-me de escapar
do sempre
sempre me recomeço
no nunca
nunca estou
onde sempre me esqueço
_______
Afasia
Não entendo mais meu nome de perto,
perdi meu endereço, minha referência nativa.
Nem sei em que idioma desconverso.
_______
Antibiótico
1º dia
não sei o que seria de mim
se não fosse essa faca afiada
a triturar minha faringe
não me reconheceria sem essa maravilha
insuportável
que desde sempre me ajudou
a não cantar com liberdade minha tessitura
a esmorecer minha retórica
de papagaio ininterrupto:
não sou eu sem ela
2º dia
já pensou ser cantador desconhecido
ou conferencista tímido
apagado?
boa inflamação recorrente da minha vida
salvou-me!
3º dia
como não posso
na crise desse amor em brasa
pronunciar um ai que seja
- porque senão dói pra burro!
fico pateticamente a rabiscar recados
e imprecações em toalhas de papel
ou a gesticular loucamente
como mudo amador
uma porção de incompreensões ridículas
4º dia
impecável espetacular extraordinária
cronicidade crítica
cíclica
minha companheira bebe minha força
que já não é normalmente muita:
naturopatas gritam alternativos suas medicinas impondo cítricos
ralhando comigo em suas bibliografias
que teimo em folhear
5º dia
no pequeno espaço em que não sou esfaqueado
imagino limões
e laranjas
por toda parte
e até estrangulo alguns de seus ácidos
6º dia
mas – amigos – quando vem a lâmina cruel
quando seu brilho olha pra mim
dando aquela risadinha sádica
escancaro os dentes
dou um tapa na língua pegajosa
e tasco goela adentro
sem o menor remorso
o mais heróico
mais artificial
e mais transbordante de reações adversas
antibiótico
de que se tiver notícia no capitalismo alopata
último? dia
os homens-planta nunca tiveram faringite
pelo menos a minha especial nunca:
sou um capricho da natureza que não me cura
só de raiva
no ínterim
canto e falo direto
_______
Soneto microscópico ou Onze
Posso
contar
as paixões
que tive
nos
dedos
com que faço
arte.
Quantas
moléculas
haverá
nestas
hastes
úteis?
_______
Incorrigível
Não quero nem saber, faço tudo pela paz!
Desafio tormentas, vociferação de gigantes,
rasgo os nervos da guerra, chovo na secura,
afio a verdade da faca na mentira da pedra.
Depois me viro em dois do avesso
e me penduro pelas partes antigas
nos cordéis de uma feira de rua.
Exponho vísceras e o que penso.
E o choro preso de costume,
em meio a outros gritadores,
apregoo
para ver se alguém me compra.
Ah! para quem me levar
vai junto o meu triunfante equilíbrio
(hic!)
como brinde.
_______
Raro
Meu dia mal começa a gorjear sua música branda
e as janelas já se esmeram a dançar as asas frescas
e ígneas do minuto amarelo.
Tudo
(e é sempre bem mais que tudo quando olho para fora)
mergulha-me num fôlego incompreensível,
que não tem havido muito na vida dura.
Eu, que não sou bobo nem nada, aproveito o momento:
embrulho o jovem sol com a cortina
e deito a cabeça num verso branco
pra dormir tranquilo.
_______
O suicídio do homem-sombra
Vou saltar, distorcem-me.
Vivo colado às paredes, só cresço no chão.
Não caibo em mim.
Precipitar-se assim de arranha-céus nem é tão perigoso,
posso morrer sem medo.
_______
Carótidas teimosas
Choveram aptidões do abismo
e agarrei algumas.
Mas faltando pedaço.
Minhas carótidas pisam caminhos rudes
no vão do pescoço,
e, tateando naquele escuro vermelho,
marcham obstinadas rumo à grande cabeça vazia.
A minha boca é a que subsiste
bebendo túneis.
_______
Cercania
Geralmente sonho que estou sonhando.
Quando vou meio longe
é normal me perder entre os dedos
dos medos
que possa ter de minhas caras feias
e do escuro.
Não adianta:
quando alguém me descobre
acabo voltando de mãos dadas comigo.
Por coisas como essa
gosto de dormir perto de mim.
.
Mais de um
.
.
Contornus
Tua pétala
de perfume fervido
em calor
refrescante
tem textura de miragem
em rerrenascença
(ai meu tato perfeito de cego!)
hoje não sei ver nada
sem te ver desenhada
na memória
que eu gosto
_______
Tão somente lúcido
Tudo reflete contentamento,
tudo sou eu,
tudo é você,
tudo é humano.
Tudo são todos que seremos,
espelhos que se olham de soslaio,
objetos mútuos.
A poeira estirada ao chão
é caspa do mundo;
meu rosto cósmico,
cosmopolita,
polido e translúcido
reflete no teu aço fácil
o ácido que traduz-me
lúcido por um instante.
Não entendo direito,
mas é sabido que ninguém
jamais viu
os próprios olhos
frente a frente,
olhos na carne.
Ninguém viu.
Nem me te esqueci nunca mais.
_______
Léxicos
A)
Caminhando pela vida reparo seres e coisas.
Dia desses, passando pela rua,
vi uma palavra olhando-me como filhote indefeso.
Peguei-a com carinho,
mas ela me mordeu.
É preciso ter cuidado com as palavras
Bê)
Para que todos os poetas-aves
possam levemente alcançar o vocábulo que os traduzam,
o faro de encontrar-se,
o vento vai soprando.
Voando, não voando,
poetando, vagabundeando,
vamos fazendo
o que se pode fazer.
Cê)
Descubro a cada dia
mais palavras de amor
e escalas de amar
Dê)
Tempo sim, tempo não,
arranco a palavra de vez, a fruta poética:
mastigo-as com casca
(palavras têm casca),
que nela se encontra o melhor nutriente.
E)
Já usaram e abusaram das conotações
ordinárias que eu conhecia
e da minha paciência.
Pus-me mudo na ventania:
assim grito mais fortemente os sinais que restaram.
Efe)
Palavras escolhem o método de despegar
as emoções que me fabricam.
Aperfeiçoam-se e não me aperfeiçoam,
repartem-se em neologismos
só de pirraça em ver-me desbaratar.
Tolice compreendê-las todas
claro,
pois que muitas vezes também não entendo
o que quer dos meus dias cinzas
o dia
claro.
Gê)
Desescuto-me naquele momento
entre a palavra
e a boca.
Agá)
Como não poderia deixar de ser,
fecho os olhos ao espirrar.
Ao espirrar tinta.
I)
Leio tua rouca e fêmea fala um pouco,
hipnotizados beberemo-nos;
mata-se a sede em monossílabos
tônicos, como tônico.
Silabadas
átonas à tona
com um prazer acentuado
de tamanhos.
Jota)
Capítulo de seres
impressos, manuscritos ou de luz fina,
feche os olhos
e leia-se do milhão de termos
de cada língua solta no mundo.
Que retiro da tua boca
a atitude do meu dia indolente
e a dissolvo nas sujidades
de minha caligrafeia.
Cá)
Dito para mim umas palavras estranhas
entre as entranhas verbais
de cada asserto.
Há mais erros que acertos.
_______
Tu, oxigênio
Respirar-te-ei por aí
não mais pela metade,
como esponja colabada
de fuligem,
Mas tranquilo, com pulmões fortes,
de abdome e intenção e nariz
para o alto,
decidido da vida.
Só aprendi a transpirar aos dezoito.
_______
Paisagem ambígua
molharei teu mar
queimarei teu sol
na tela naïf que pintar
(de ti)
_______
Sou então teu copo d´água
venta tudo o que tens pra dizer
chove tudo o que tens pra chorar
mas depois chama o tempo bom
para de dizer
para de chorar
querida tempestade.
_______
Pueril
Vem inundar comigo
esse chão farto de poeira futura
com jorros de água bebível a empurrar
tudo o que virá,
o que ainda cairá descamando: paredes,
peles, desvontades da moda,
do milênio novo.
Vem empurrar desconexões para o ralo
(no espelho d’água
já vemos o teto branco
imitando as maneiras do ralo).
Uns clarões infantis
metralham minha possível madureza:
sinto nas valas dos pés
a dilacerante refrescância da cerâmica
vermelha molhada na varanda
dos dias puros.
Nos olhos rotos de sede
a hora rasa
de um reflexo inspirado de sol.
_______
Ardentes
quando os maçaricos incolores
acendem nos pescoços a fadiga
das glândulas
e os odores ricos do mormaço,
virilhas, axilas, tudo derrete
na acidez do tropel.
E um círculo de urubus ébrios,
fétidos,
inimagináveis,
desaba naquilo.
Muita pena,
muita pena.
_______
Até hoje
(quando o dia era fácil
sabia somente brincar de rua
queimando a cabeça no sol
gelando o suadouro na lua)
como seria mudar de casa?
sentiria nostalgia da alugada era?
lá à vontade sorri sonhei
claro
chorei
(como quando Pepito se foi)
lá recebi vários apelidos da maldade inocente
que doeram
até hoje
no meu quarto
de século afinal
viajamos o teto para a novidade
(céu trasladado)
percebi que pouco ou nada
ficou diferente
não sofri desde agora
nossa casa é onde estão nossas coisas
e nossas estrelas
onde instalamos
arquitetonicamente
nossos amores
_______
Q-brado
de mim
cato os cacos que caem nos cantos da casa
quando não estás
_______
Máquina de ferrugem doce
Otimamente excelente, você...
de-vez-em-quando-quase-nunca.
Quando põe pra funcionar a endorfinada vida,
somente assim.
Deixe de parafrasear minha frase feita,
basta de diluviar-me
com essa poça espessa e marrom-metálica.
É aí que a amo.
_______
Perdão ou o nexo de sentir
se chorares
beberei de tua lágrima meu veneno
humildemente
matarei a sede
que tenho de mim
depois de morrer contigo
_______
Esquisito
universalmente
aqui no peito
guardo você do futuro em diante
free dom
apesar de tudo
a penar nas amarras
decerto isto é complicado:
poder e não poder
(vaidades do instinto selvagem
e de outros inumeráveis vícios lícitos)
nem é difícil entender
essas esquisitices:
há horas
em que somos nós mesmo(s)
_______
Composto
velhas novas lembranças
esquecem-se
de acordar
se durmo no teu colo manso
nada importa mais
que o descanso do tempo
na tua paz úmida
de mulher
_______
Leal
i
choveu desvio
nem vi
o que vinha se formando
pisei em tudo
atrapalhado
resvalei o beijo
desamarro agora
cadarços molhados
no lamaçal potável
ii
tenho visto peles
pelos carnes olhos bocas
passarem por mim
percepções despidas
contradizem-se
negam-se ao acordo
à regra velha parida
saio do corpo
em detrimento da queda
_______
Pirilampos relâmpagos
nem mesmo
as grossas camadas
da dor do amor
ou dos adeuses
podem com nossa vontade
vadia
nosso entendimento
infesta-se
da incandescência
latejante
(como deve ser mesmo a vida)
e voamos:
somos
não somos
somos
não somos
somos
não somos
e assim vamos
_______
Atentado
quero explodir
de amor
em você
_______
Marulhos
i
tropeço pelos dias aquáticos
cego
por teu nado de fêmea
e vou vendo além
minha língua líquida adoça
logo
quando pupilas aperfeiçoadas
lágrimas me lanças
(qual pesqueiro
cruzando meus lampejos extasiados
subindo e descendo
uns azuis e brancos e verdes
vão ao destino que tu és
estão indo
e foram-se pequenas ondas
levitadas do resumo do vento)
planejo uma fuga
perfeita
mas meu corpo é teu
perco-me no degrau do horizonte
ii
todo dia removível em que remergulho
no teu corpo
mar solene
é teimoso e doido
doído
vou fundo (é que guinei demais a proa)
que é pra soltar da pele uns medos
de tudo
de tuas águas feminis bebi sempre
um pouco de cada alga cada semente
de muita semântica marinha
tuas palavras-silêncios-esponjas
e passei rente a teu intento
quase adivinhando um beijo transbordante
iii
certa ocasião
nessas águas quentes do Brasil
uns peixes verdes espiavam-me curiosos
por debaixo de meus cotovelos
quando pude vê-los direito
eram sereias mais lindas do que verdes
e perguntaram-me as horas que eu tive
mas meu pulso havia parado
perdi-me então (no fundo) e elas
deram-me de comer sopa de algas
com gosto de espinafre e queijo
um beijo com sabor de oxigênio
e reconforto de quentura e na ternura
pude ver mais do que direito
que as sereias eram você
e sereias nem sequer existem
existem?!
iv
assim que avistei teu barco
quis ensinar-te
o que nem havia aprendido
do mar e o mar é lindo:
nós laços levantar de vela
quis logo mergulhar contigo
na indizível profundeza
em refrescância
e nadar invisível
e ir e ir com o alegre vento
de dentro
amarrado a ti assim indo
clareza não tem segredo
luz para o desejo-atol
lúmen e nácar
amor claro de pérola
farol a socorrer a tempo o tempo
nosso lugar perdido
na densidade
das reminiscências
amor claro
desatando negrume
e nós marinhos
_______
Caninos
i
vou atrás de ti
minha dona
feito um cão
vou fungando teus passos
tuas impressões feitas de cheiro
lambo arranho
mordo
como o cão amigo brinca de morder
ii
agora uma espécie entre os lobos
esfomeados esbugalhados sedentos
de selvageria rio de acompanhar
o instinto desesperado da presa
lanço no rasgo quente loucos
dentes agudíssimos de relento
tento mas não consigo parar
de dilacerar tua fêmea defesa
_______
Sensorial ou o pouco tempo que nos resta
para
de
se
enervar
comigo
“olha
a
hora
olha
a
hora”
.
Contornus
Tua pétala
de perfume fervido
em calor
refrescante
tem textura de miragem
em rerrenascença
(ai meu tato perfeito de cego!)
hoje não sei ver nada
sem te ver desenhada
na memória
que eu gosto
_______
Tão somente lúcido
Tudo reflete contentamento,
tudo sou eu,
tudo é você,
tudo é humano.
Tudo são todos que seremos,
espelhos que se olham de soslaio,
objetos mútuos.
A poeira estirada ao chão
é caspa do mundo;
meu rosto cósmico,
cosmopolita,
polido e translúcido
reflete no teu aço fácil
o ácido que traduz-me
lúcido por um instante.
Não entendo direito,
mas é sabido que ninguém
jamais viu
os próprios olhos
frente a frente,
olhos na carne.
Ninguém viu.
Nem me te esqueci nunca mais.
_______
Léxicos
A)
Caminhando pela vida reparo seres e coisas.
Dia desses, passando pela rua,
vi uma palavra olhando-me como filhote indefeso.
Peguei-a com carinho,
mas ela me mordeu.
É preciso ter cuidado com as palavras
Bê)
Para que todos os poetas-aves
possam levemente alcançar o vocábulo que os traduzam,
o faro de encontrar-se,
o vento vai soprando.
Voando, não voando,
poetando, vagabundeando,
vamos fazendo
o que se pode fazer.
Cê)
Descubro a cada dia
mais palavras de amor
e escalas de amar
Dê)
Tempo sim, tempo não,
arranco a palavra de vez, a fruta poética:
mastigo-as com casca
(palavras têm casca),
que nela se encontra o melhor nutriente.
E)
Já usaram e abusaram das conotações
ordinárias que eu conhecia
e da minha paciência.
Pus-me mudo na ventania:
assim grito mais fortemente os sinais que restaram.
Efe)
Palavras escolhem o método de despegar
as emoções que me fabricam.
Aperfeiçoam-se e não me aperfeiçoam,
repartem-se em neologismos
só de pirraça em ver-me desbaratar.
Tolice compreendê-las todas
claro,
pois que muitas vezes também não entendo
o que quer dos meus dias cinzas
o dia
claro.
Gê)
Desescuto-me naquele momento
entre a palavra
e a boca.
Agá)
Como não poderia deixar de ser,
fecho os olhos ao espirrar.
Ao espirrar tinta.
I)
Leio tua rouca e fêmea fala um pouco,
hipnotizados beberemo-nos;
mata-se a sede em monossílabos
tônicos, como tônico.
Silabadas
átonas à tona
com um prazer acentuado
de tamanhos.
Jota)
Capítulo de seres
impressos, manuscritos ou de luz fina,
feche os olhos
e leia-se do milhão de termos
de cada língua solta no mundo.
Que retiro da tua boca
a atitude do meu dia indolente
e a dissolvo nas sujidades
de minha caligrafeia.
Cá)
Dito para mim umas palavras estranhas
entre as entranhas verbais
de cada asserto.
Há mais erros que acertos.
_______
Tu, oxigênio
Respirar-te-ei por aí
não mais pela metade,
como esponja colabada
de fuligem,
Mas tranquilo, com pulmões fortes,
de abdome e intenção e nariz
para o alto,
decidido da vida.
Só aprendi a transpirar aos dezoito.
_______
Paisagem ambígua
molharei teu mar
queimarei teu sol
na tela naïf que pintar
(de ti)
_______
Sou então teu copo d´água
venta tudo o que tens pra dizer
chove tudo o que tens pra chorar
mas depois chama o tempo bom
para de dizer
para de chorar
querida tempestade.
_______
Pueril
Vem inundar comigo
esse chão farto de poeira futura
com jorros de água bebível a empurrar
tudo o que virá,
o que ainda cairá descamando: paredes,
peles, desvontades da moda,
do milênio novo.
Vem empurrar desconexões para o ralo
(no espelho d’água
já vemos o teto branco
imitando as maneiras do ralo).
Uns clarões infantis
metralham minha possível madureza:
sinto nas valas dos pés
a dilacerante refrescância da cerâmica
vermelha molhada na varanda
dos dias puros.
Nos olhos rotos de sede
a hora rasa
de um reflexo inspirado de sol.
_______
Ardentes
quando os maçaricos incolores
acendem nos pescoços a fadiga
das glândulas
e os odores ricos do mormaço,
virilhas, axilas, tudo derrete
na acidez do tropel.
E um círculo de urubus ébrios,
fétidos,
inimagináveis,
desaba naquilo.
Muita pena,
muita pena.
_______
Até hoje
(quando o dia era fácil
sabia somente brincar de rua
queimando a cabeça no sol
gelando o suadouro na lua)
como seria mudar de casa?
sentiria nostalgia da alugada era?
lá à vontade sorri sonhei
claro
chorei
(como quando Pepito se foi)
lá recebi vários apelidos da maldade inocente
que doeram
até hoje
no meu quarto
de século afinal
viajamos o teto para a novidade
(céu trasladado)
percebi que pouco ou nada
ficou diferente
não sofri desde agora
nossa casa é onde estão nossas coisas
e nossas estrelas
onde instalamos
arquitetonicamente
nossos amores
_______
Q-brado
de mim
cato os cacos que caem nos cantos da casa
quando não estás
_______
Máquina de ferrugem doce
Otimamente excelente, você...
de-vez-em-quando-quase-nunca.
Quando põe pra funcionar a endorfinada vida,
somente assim.
Deixe de parafrasear minha frase feita,
basta de diluviar-me
com essa poça espessa e marrom-metálica.
É aí que a amo.
_______
Perdão ou o nexo de sentir
se chorares
beberei de tua lágrima meu veneno
humildemente
matarei a sede
que tenho de mim
depois de morrer contigo
_______
Esquisito
universalmente
aqui no peito
guardo você do futuro em diante
free dom
apesar de tudo
a penar nas amarras
decerto isto é complicado:
poder e não poder
(vaidades do instinto selvagem
e de outros inumeráveis vícios lícitos)
nem é difícil entender
essas esquisitices:
há horas
em que somos nós mesmo(s)
_______
Composto
velhas novas lembranças
esquecem-se
de acordar
se durmo no teu colo manso
nada importa mais
que o descanso do tempo
na tua paz úmida
de mulher
_______
Leal
i
choveu desvio
nem vi
o que vinha se formando
pisei em tudo
atrapalhado
resvalei o beijo
desamarro agora
cadarços molhados
no lamaçal potável
ii
tenho visto peles
pelos carnes olhos bocas
passarem por mim
percepções despidas
contradizem-se
negam-se ao acordo
à regra velha parida
saio do corpo
em detrimento da queda
_______
Pirilampos relâmpagos
nem mesmo
as grossas camadas
da dor do amor
ou dos adeuses
podem com nossa vontade
vadia
nosso entendimento
infesta-se
da incandescência
latejante
(como deve ser mesmo a vida)
e voamos:
somos
não somos
somos
não somos
somos
não somos
e assim vamos
_______
Atentado
quero explodir
de amor
em você
_______
Marulhos
i
tropeço pelos dias aquáticos
cego
por teu nado de fêmea
e vou vendo além
minha língua líquida adoça
logo
quando pupilas aperfeiçoadas
lágrimas me lanças
(qual pesqueiro
cruzando meus lampejos extasiados
subindo e descendo
uns azuis e brancos e verdes
vão ao destino que tu és
estão indo
e foram-se pequenas ondas
levitadas do resumo do vento)
planejo uma fuga
perfeita
mas meu corpo é teu
perco-me no degrau do horizonte
ii
todo dia removível em que remergulho
no teu corpo
mar solene
é teimoso e doido
doído
vou fundo (é que guinei demais a proa)
que é pra soltar da pele uns medos
de tudo
de tuas águas feminis bebi sempre
um pouco de cada alga cada semente
de muita semântica marinha
tuas palavras-silêncios-esponjas
e passei rente a teu intento
quase adivinhando um beijo transbordante
iii
certa ocasião
nessas águas quentes do Brasil
uns peixes verdes espiavam-me curiosos
por debaixo de meus cotovelos
quando pude vê-los direito
eram sereias mais lindas do que verdes
e perguntaram-me as horas que eu tive
mas meu pulso havia parado
perdi-me então (no fundo) e elas
deram-me de comer sopa de algas
com gosto de espinafre e queijo
um beijo com sabor de oxigênio
e reconforto de quentura e na ternura
pude ver mais do que direito
que as sereias eram você
e sereias nem sequer existem
existem?!
iv
assim que avistei teu barco
quis ensinar-te
o que nem havia aprendido
do mar e o mar é lindo:
nós laços levantar de vela
quis logo mergulhar contigo
na indizível profundeza
em refrescância
e nadar invisível
e ir e ir com o alegre vento
de dentro
amarrado a ti assim indo
clareza não tem segredo
luz para o desejo-atol
lúmen e nácar
amor claro de pérola
farol a socorrer a tempo o tempo
nosso lugar perdido
na densidade
das reminiscências
amor claro
desatando negrume
e nós marinhos
_______
Caninos
i
vou atrás de ti
minha dona
feito um cão
vou fungando teus passos
tuas impressões feitas de cheiro
lambo arranho
mordo
como o cão amigo brinca de morder
ii
agora uma espécie entre os lobos
esfomeados esbugalhados sedentos
de selvageria rio de acompanhar
o instinto desesperado da presa
lanço no rasgo quente loucos
dentes agudíssimos de relento
tento mas não consigo parar
de dilacerar tua fêmea defesa
_______
Sensorial ou o pouco tempo que nos resta
para
de
se
enervar
comigo
“olha
a
hora
olha
a
hora”
Além do mais
.
.
Recíproco
em traduzir a índole
do sangue: o rosto
fumegante exógeno banido:
coisa melhor que viver
é ter-se atrás da pele
um desnexo
o truque reflexivo
de regurgitar a si mesmo:
em dissuadir o esforço ido
vou-me entregando
à submersão de latitude
é o que faço - é assim
que disfarço o disfarce
erros à parte
em riso ou triste
ainda bem
que a arte me existe
e me insiste
_______
Mr Street
inventa-se um poeta
como se inventa o dia-cheio de fome
e sede de toda espécie
humana
de expressão de arte ingênua de rua
de beijo de querência de encontro
ou de qualquer que seja o tipo
de escorregadio equilíbrio
há vezes (e são muitas)
em que ele se inventa mesmo é chorando
não sei
se lapido sintaxes
para agradar os denotativos transeuntes
(da terra exata)
ou se me torno o tolo
que sempre fui
com o pé no passo do piche em chamas
cuspindo no caminho que leva longe
ele nem sabe se quer ir longe
atando-se a tolices de rua, rua que leva longe
ou a liberdades de céu, céu que leva longe
ele nem sabe, nem sabe se quer ir longe
_______
Força de vontade
como há futili(mal)dade
no mundo
quanta sordidez
invenções de desinventores
equívocos
intencionais
na obsolescência do planeta
viajam
entretanto
alguns puros:
aqueles que não querem ficar
na vontade
os que têm vontade
de ficar à vontade
pra ter sempre vontade
por estes persevera a vida?
_______
Quieto
ao contrário do que dizem muitos
há cada dia menos gente
toda a história pressiona a humanidade
para um próximo instante
que definitivamente não existe:
o futuro volta ao passado
e a gente acaba indo sozinho
o tempo não passa (por nós)
o que passa são as coisas
as idiossincrasias
a ruga fundamental que nos espeta
os tipos sanguíneos
o tempo anda parado
_______
Weiss
i
desço a gigantesca escadaria de mármore
de um polimento inacreditável
vou cada vez mais fundo
ii
mais e mais fundo
iii
no fundo
todo mundo quer ir
fundo
_______
timo
esmurro o timo estrebucho a dialética esquelética desin(feto) a última morada do que fomos feitos casulo jaula interesseira ensina voo na clausura paz soltura dos dias vãos vão-se fazendo trôpegos os sábios eia colisão frenética liberdade ética hermética solidão elétrica asa bélica
eu
não
aguento
essa dor no peito
_______
e lá se vão as noções
leio os primeiros últimos poemas
que ganhei do feriado da guerra branca
branca também é a mesa
em que apoio o sonho neutro
e as mãos de ferro fundido
olho as horas e as outras idades do tempo
passo a escrever no chão azul
as estrelas que nem enxergo
(é imenso o guarda-chuva aberto
sobre minha cabeça aberta)
_______
Casa três
lembro-me tão bem
e o real é tamanho
que estou lá agora
chego a ter os pés sujos
de terra fina
terra preta crosta fina esbranquiçada
é tão claro
que estou lá e fico
no quintal de Maria
jameloeiro a jameloar horas ingênuas
tantos voos lançados tontos
no balanço
toscos o brinquedo e eu
em cada subida semicircular
agarro um ar mais mágico
e brota naquele mundo
instantâneo
o chapiscar do sol nos verdes todos
nova pátria
luzes verdes na verde
imensidão a que assisto
no pequeno espaço
em gargalhadas e quase-choro
de nostalgia
marca cúmplice de décadas
_______
Sashimi
não chorar
me ajuda a entender
como os peixes
são
por dentro
_______
Sônico
agora amor amores
são contíguos muitos sons
a poesia afina nossa orquestra oscilatória:
somos primeiros e segundos violinos
na intrínseca e aprazível velha noite a nos cantar
veja a melodia
cheire a melodia
esbarre nela
coma-a
sonhe-a
que a era solitária
era a própria multidão de nós mormente
e hoje colecionamos estrondos feios
e algumas poucas músicas
de ninar-nos
_______
Homem discutindo a relação
viajo e trepido estranho
minha cara
na abertura de teus lábios claros
e na fluência de teu idioma raro
lá moram as lendas
os termos
os contratos
muito a celebrar
nas noites de insônia
se se conseguir despertar
_______
Neo-sanguíneo
i
as teias das horas:
hélices a rodar tapas nas faces fracas
ii
não são as lascas do sol rastejante
que nos faz corar
mas as pancadas
de mão aberta cortada
por faca que tem cabo de gumes
iii
se há ciúmes no tempo
sobrevivo nas feridas distantes
e em nossos medos espalhados
pelos vidros da casa
iv
a luz rasa que chegara há pouco
acabou por fugir
de minhas veias
_______
Com os pés na cabeça
entreguei-me a trabalhos forçados
para ser liberto
quantas vezes mais fugirei de minha fuga
e perseguirei a mim mesmo?
_______
Noturnos
o destino
não tem jeito
é desenhá-las no ar
fazendo círculos com as mãos
é como se tocasse
um piano esvoaçante
nos movimentos arbitrários da noite:
os dedos tremulam
as cabeças acompanham toda a dança:
os que amam são nuvem de mariposas
buscam muitas direções
disputando o solstício das lâmpadas
e essa distância somos todos
e nossas vontades de luz
meus dedos às vezes
conclamam uma reunião urgente:
vem
acalma-te
descansa
nas minhas mãos em concha
_______
Quintas grandezas
todo mundo
mora
na sua própria natureza
mas quantas e tais e mais
estrelas
não quereriam amar
despir-se
de luz
depois descer
e vestir-se de necessidades
(por serem tantas)
e imitar-nos aqui
no chão do Brasil?
_______
Relevo o relevo
venha em paz
ciclo invertido
metamorfosear-me
a evolução
a cor dos metais
minha tez
de ferro e estanho
moldados nos tímpanos
estão as letras
e o som dos aniversários
amasse mais
minha cara
de tudo
do a ao xis ou ípsilon
da planta metálica à palavra nova
em folha
como folha-de-flandres
_______
Transcurso
i
neologismos guturais vinha latindo por aí
um operário de letras
embriagado
de purezas meio animal conotativo
eis o que queria ser
ii
mas fabrico realidades
no meu tempo livre
e as vou colecionando
pois agora sei
que o que é palpável não existe:
a vida real vive na morte
a morte irreal morre na vida
iii
no sentido de existir
vou catar haveres
de meu computador impessoal
_______
Mascarágua
claridades
vão me apagando
os olhos
a boca
os cabelos internos
preciso estar inteiro
na minha dissolução
o tempo empresta as mãos
ao trabalho árduo
e faz com que me esconda
entre os dentes da cabeça
no espaço entre a língua
e o movimento do queixo
dentro do sangue
que escorre na saliva
posso fazer sempre o mesmo
mas nunca sou o mesmo
iludo como um rio ilude
_______
Minha nudez é cega
é no constrangimento das coisas
que me dispo
dispo-me dos fatos puídos deixo-os
cair no sumidouro frio
em que meus pés se apoiam
(invento naquele assombro
um pseudônimo do meu próprio nome
que venho esquecendo)
desmaio nas lutas:
dispo-me da psique provisória
no nexo que às vezes penso
- sem trégua
dispo-me do suplício
superalimentador de ego
e de autocomiseração parasita
com nojo
dispo-me do entusiasmo
com que entulho entrelinhas em poemas lacônicos
de novas lutas não se levanta:
saio para a rua e já volto a casa
minguado de torcicolos
para que ninguém me veja
nem os espelhos do meu quarto
me reviram ou revisitaram
antes sou Carl Gustav num grito a Sigmund:
- dois terços para Perséfone!
depois visto-me
sem vergonha
diante de minha imperceptível
san(t)idade
_______
Possibilidades de um clichê sem voz
E “O sol nasce para todos”.
O rei cega quem mais deseja mirar-lhe o rosto,
somente os que não veem podem vê-lo
neste meio-dia inextinguível.
Tenho visto cegos na luz,
e eles me dizem que veem claro,
não escuro.
_______
Oicíni od mif
Três, vou me desligar agora,
ver se deito a lâmpada, se limpo o carvão.
Arrancar-me-ei da energia como raio,
positivamente negativo;
das deliberações do acaso, mais que o ocaso
arrancarei às seis (tenho de fazê-lo!)
Dois, meus relógios digitais brincam
com os de ponteiros à minha frente,
mas nem os vejo correndo, pululando
sem parar, crianças que não crescem.
Pois giro ao contrário com sentido,
e sem sentido às vezes continuo
em ver palavras impronunciáveis,
não horas, mas letras confusas:
tenho andado agora anti-horário.
Um, descansemos,
que somos todos velhos conhecidos,
piscando olhos inevitáveis,
brindando pupilas cínicas,
aturdidos tonteando firmemente,
nus de embaçamento interior, mas indo,
desrindo e rindo com os braços
perdidos na cabeça
até as manhãs, um esforço de internauta.
Zero, rabisco um bocejo irresistível no ar,
traduzo um até-breve.
.
Recíproco
em traduzir a índole
do sangue: o rosto
fumegante exógeno banido:
coisa melhor que viver
é ter-se atrás da pele
um desnexo
o truque reflexivo
de regurgitar a si mesmo:
em dissuadir o esforço ido
vou-me entregando
à submersão de latitude
é o que faço - é assim
que disfarço o disfarce
erros à parte
em riso ou triste
ainda bem
que a arte me existe
e me insiste
_______
Mr Street
inventa-se um poeta
como se inventa o dia-cheio de fome
e sede de toda espécie
humana
de expressão de arte ingênua de rua
de beijo de querência de encontro
ou de qualquer que seja o tipo
de escorregadio equilíbrio
há vezes (e são muitas)
em que ele se inventa mesmo é chorando
não sei
se lapido sintaxes
para agradar os denotativos transeuntes
(da terra exata)
ou se me torno o tolo
que sempre fui
com o pé no passo do piche em chamas
cuspindo no caminho que leva longe
ele nem sabe se quer ir longe
atando-se a tolices de rua, rua que leva longe
ou a liberdades de céu, céu que leva longe
ele nem sabe, nem sabe se quer ir longe
_______
Força de vontade
como há futili(mal)dade
no mundo
quanta sordidez
invenções de desinventores
equívocos
intencionais
na obsolescência do planeta
viajam
entretanto
alguns puros:
aqueles que não querem ficar
na vontade
os que têm vontade
de ficar à vontade
pra ter sempre vontade
por estes persevera a vida?
_______
Quieto
ao contrário do que dizem muitos
há cada dia menos gente
toda a história pressiona a humanidade
para um próximo instante
que definitivamente não existe:
o futuro volta ao passado
e a gente acaba indo sozinho
o tempo não passa (por nós)
o que passa são as coisas
as idiossincrasias
a ruga fundamental que nos espeta
os tipos sanguíneos
o tempo anda parado
_______
Weiss
i
desço a gigantesca escadaria de mármore
de um polimento inacreditável
vou cada vez mais fundo
ii
mais e mais fundo
iii
no fundo
todo mundo quer ir
fundo
_______
timo
esmurro o timo estrebucho a dialética esquelética desin(feto) a última morada do que fomos feitos casulo jaula interesseira ensina voo na clausura paz soltura dos dias vãos vão-se fazendo trôpegos os sábios eia colisão frenética liberdade ética hermética solidão elétrica asa bélica
eu
não
aguento
essa dor no peito
_______
e lá se vão as noções
leio os primeiros últimos poemas
que ganhei do feriado da guerra branca
branca também é a mesa
em que apoio o sonho neutro
e as mãos de ferro fundido
olho as horas e as outras idades do tempo
passo a escrever no chão azul
as estrelas que nem enxergo
(é imenso o guarda-chuva aberto
sobre minha cabeça aberta)
_______
Casa três
lembro-me tão bem
e o real é tamanho
que estou lá agora
chego a ter os pés sujos
de terra fina
terra preta crosta fina esbranquiçada
é tão claro
que estou lá e fico
no quintal de Maria
jameloeiro a jameloar horas ingênuas
tantos voos lançados tontos
no balanço
toscos o brinquedo e eu
em cada subida semicircular
agarro um ar mais mágico
e brota naquele mundo
instantâneo
o chapiscar do sol nos verdes todos
nova pátria
luzes verdes na verde
imensidão a que assisto
no pequeno espaço
em gargalhadas e quase-choro
de nostalgia
marca cúmplice de décadas
_______
Sashimi
não chorar
me ajuda a entender
como os peixes
são
por dentro
_______
Sônico
agora amor amores
são contíguos muitos sons
a poesia afina nossa orquestra oscilatória:
somos primeiros e segundos violinos
na intrínseca e aprazível velha noite a nos cantar
veja a melodia
cheire a melodia
esbarre nela
coma-a
sonhe-a
que a era solitária
era a própria multidão de nós mormente
e hoje colecionamos estrondos feios
e algumas poucas músicas
de ninar-nos
_______
Homem discutindo a relação
viajo e trepido estranho
minha cara
na abertura de teus lábios claros
e na fluência de teu idioma raro
lá moram as lendas
os termos
os contratos
muito a celebrar
nas noites de insônia
se se conseguir despertar
_______
Neo-sanguíneo
i
as teias das horas:
hélices a rodar tapas nas faces fracas
ii
não são as lascas do sol rastejante
que nos faz corar
mas as pancadas
de mão aberta cortada
por faca que tem cabo de gumes
iii
se há ciúmes no tempo
sobrevivo nas feridas distantes
e em nossos medos espalhados
pelos vidros da casa
iv
a luz rasa que chegara há pouco
acabou por fugir
de minhas veias
_______
Com os pés na cabeça
entreguei-me a trabalhos forçados
para ser liberto
quantas vezes mais fugirei de minha fuga
e perseguirei a mim mesmo?
_______
Noturnos
o destino
não tem jeito
é desenhá-las no ar
fazendo círculos com as mãos
é como se tocasse
um piano esvoaçante
nos movimentos arbitrários da noite:
os dedos tremulam
as cabeças acompanham toda a dança:
os que amam são nuvem de mariposas
buscam muitas direções
disputando o solstício das lâmpadas
e essa distância somos todos
e nossas vontades de luz
meus dedos às vezes
conclamam uma reunião urgente:
vem
acalma-te
descansa
nas minhas mãos em concha
_______
Quintas grandezas
todo mundo
mora
na sua própria natureza
mas quantas e tais e mais
estrelas
não quereriam amar
despir-se
de luz
depois descer
e vestir-se de necessidades
(por serem tantas)
e imitar-nos aqui
no chão do Brasil?
_______
Relevo o relevo
venha em paz
ciclo invertido
metamorfosear-me
a evolução
a cor dos metais
minha tez
de ferro e estanho
moldados nos tímpanos
estão as letras
e o som dos aniversários
amasse mais
minha cara
de tudo
do a ao xis ou ípsilon
da planta metálica à palavra nova
em folha
como folha-de-flandres
_______
Transcurso
i
neologismos guturais vinha latindo por aí
um operário de letras
embriagado
de purezas meio animal conotativo
eis o que queria ser
ii
mas fabrico realidades
no meu tempo livre
e as vou colecionando
pois agora sei
que o que é palpável não existe:
a vida real vive na morte
a morte irreal morre na vida
iii
no sentido de existir
vou catar haveres
de meu computador impessoal
_______
Mascarágua
claridades
vão me apagando
os olhos
a boca
os cabelos internos
preciso estar inteiro
na minha dissolução
o tempo empresta as mãos
ao trabalho árduo
e faz com que me esconda
entre os dentes da cabeça
no espaço entre a língua
e o movimento do queixo
dentro do sangue
que escorre na saliva
posso fazer sempre o mesmo
mas nunca sou o mesmo
iludo como um rio ilude
_______
Minha nudez é cega
é no constrangimento das coisas
que me dispo
dispo-me dos fatos puídos deixo-os
cair no sumidouro frio
em que meus pés se apoiam
(invento naquele assombro
um pseudônimo do meu próprio nome
que venho esquecendo)
desmaio nas lutas:
dispo-me da psique provisória
no nexo que às vezes penso
- sem trégua
dispo-me do suplício
superalimentador de ego
e de autocomiseração parasita
com nojo
dispo-me do entusiasmo
com que entulho entrelinhas em poemas lacônicos
de novas lutas não se levanta:
saio para a rua e já volto a casa
minguado de torcicolos
para que ninguém me veja
nem os espelhos do meu quarto
me reviram ou revisitaram
antes sou Carl Gustav num grito a Sigmund:
- dois terços para Perséfone!
depois visto-me
sem vergonha
diante de minha imperceptível
san(t)idade
_______
Possibilidades de um clichê sem voz
E “O sol nasce para todos”.
O rei cega quem mais deseja mirar-lhe o rosto,
somente os que não veem podem vê-lo
neste meio-dia inextinguível.
Tenho visto cegos na luz,
e eles me dizem que veem claro,
não escuro.
_______
Oicíni od mif
Três, vou me desligar agora,
ver se deito a lâmpada, se limpo o carvão.
Arrancar-me-ei da energia como raio,
positivamente negativo;
das deliberações do acaso, mais que o ocaso
arrancarei às seis (tenho de fazê-lo!)
Dois, meus relógios digitais brincam
com os de ponteiros à minha frente,
mas nem os vejo correndo, pululando
sem parar, crianças que não crescem.
Pois giro ao contrário com sentido,
e sem sentido às vezes continuo
em ver palavras impronunciáveis,
não horas, mas letras confusas:
tenho andado agora anti-horário.
Um, descansemos,
que somos todos velhos conhecidos,
piscando olhos inevitáveis,
brindando pupilas cínicas,
aturdidos tonteando firmemente,
nus de embaçamento interior, mas indo,
desrindo e rindo com os braços
perdidos na cabeça
até as manhãs, um esforço de internauta.
Zero, rabisco um bocejo irresistível no ar,
traduzo um até-breve.
Um sem-fim em dedicatória e/ou agradecimentos
.
a Deus YHWH, acima de todos, Poeta Maior em Jesus, o Cristo, Autor de minha Fé, a quem, errante como sou - mas esperançoso -, entrego minha alma;
a Valéria, minha ex-mulher e mãe de meus filhos, pelo empenho e força literária;
a Marianna, querida filha-flor, pelo amor e amizade desmedidos e puros, assim como a nosso novo neném, Fabbio Gabriel;
a minha menina-mãe, Shirley, pelo apoio e dedicação absurdos e relacionamento liberal de irmã – momento em que aproveito para beijar-lhe as mãos em amor irrestrito e incomensurável;
a meu bondoso pai, Jonaldo (Pepito), ser extraordinário, em memória com amor indizível, com sorriso doce emoldurado de saudade perene;
a minha única e guerreira irmã, Fátima (Maninha), juntamente a meus sobrinhos, Julianne e Lucas;
a tia Wilma, minha segunda mãe, mulher espetacular, defensora irrepreensível da paz; e a tio Ludolpho, ser de pureza e honestidade inacreditáveis - e sua família -, por serem muito mais do que tios, pois que com eles fui criado;
a minhas tias paternas, Ilza, Nely, Delcy, Graciete, Leomar e Olinda;
a meus inumeráveis primos e primas de todos os graus, em especial a Dilma, Amauri e Willian;
a meus prezadíssimos amigos - para representá-los, principalmente:
a Edivar (caro Little-boy), companheiro de sim e de não; e Carlos Eduardo (nosso ilustre pós-Doutor em Literatura, mas para mim sempre “Carlinhos”, meu mais presente amigo de infância) – estes, como se fossem meus irmãos;
a Lairton Ramos, Mário Mahomed, Deise Pereira, Vicente Fonseca, Carlos Asicq, Edmar Gomes, Roberto Menezes, Moisés Vicentino, João Edson, Mário Araújo, André Medella, Luiz Corrêa, Arlindo Costa, Rafael Paar, M. Alvarenga, A.C. de Souza, Alexandre Martins, Robson Moratelli, Oswaldo Fernandes, Cláudio Mendonça, Alex Mattos, Carlos Carmelo, José Augusto, J. Carlos Dias, Marcelo Miguel, Odebran, Oltem, Cláudio Luiz, Itacy dos Anjos, J. Ataídes, André Nunes, Paulo R. Guimarães, Luiz Cláudio Carvalho, Severino “Bill”, Glauber B. Rocha, Pedro Danter, Robson Jacques... (definitivamente não há como listar todos...), colegas e conhecidos de percurso que se tornaram grandes amigos;
a Mecso, pelos versos intermináveis no vento;
aos futuros amigos, que, com certeza, hei de encontrar;
a outras tantas pessoas de que não me recordei (momentaneamente) na entrega dos originais para a edição deste livro, minhas mais humildes desculpas.
(Fosse eu mais puro, dedicaria esta obra, por ser minha primeira publicada, logo a todos os seres humanos dos tempos “descalendáricos” da Terra, concordantes ou não comigo; ofertaria aos empáticos, mas também aos apáticos e aos lunáticos, o público cativo de si mesmos - pois que somos, afinal, compreendamos ou não, todos da mesma gigantesca família humana. Como a pureza, entretanto, vai-se diluindo com a vida rude, prefiro deixar aqui registrado somente os humanos mais próximos e mais humanos comigo).
a Deus YHWH, acima de todos, Poeta Maior em Jesus, o Cristo, Autor de minha Fé, a quem, errante como sou - mas esperançoso -, entrego minha alma;
a Valéria, minha ex-mulher e mãe de meus filhos, pelo empenho e força literária;
a Marianna, querida filha-flor, pelo amor e amizade desmedidos e puros, assim como a nosso novo neném, Fabbio Gabriel;
a minha menina-mãe, Shirley, pelo apoio e dedicação absurdos e relacionamento liberal de irmã – momento em que aproveito para beijar-lhe as mãos em amor irrestrito e incomensurável;
a meu bondoso pai, Jonaldo (Pepito), ser extraordinário, em memória com amor indizível, com sorriso doce emoldurado de saudade perene;
a minha única e guerreira irmã, Fátima (Maninha), juntamente a meus sobrinhos, Julianne e Lucas;
a tia Wilma, minha segunda mãe, mulher espetacular, defensora irrepreensível da paz; e a tio Ludolpho, ser de pureza e honestidade inacreditáveis - e sua família -, por serem muito mais do que tios, pois que com eles fui criado;
a minhas tias paternas, Ilza, Nely, Delcy, Graciete, Leomar e Olinda;
a meus inumeráveis primos e primas de todos os graus, em especial a Dilma, Amauri e Willian;
a meus prezadíssimos amigos - para representá-los, principalmente:
a Edivar (caro Little-boy), companheiro de sim e de não; e Carlos Eduardo (nosso ilustre pós-Doutor em Literatura, mas para mim sempre “Carlinhos”, meu mais presente amigo de infância) – estes, como se fossem meus irmãos;
a Lairton Ramos, Mário Mahomed, Deise Pereira, Vicente Fonseca, Carlos Asicq, Edmar Gomes, Roberto Menezes, Moisés Vicentino, João Edson, Mário Araújo, André Medella, Luiz Corrêa, Arlindo Costa, Rafael Paar, M. Alvarenga, A.C. de Souza, Alexandre Martins, Robson Moratelli, Oswaldo Fernandes, Cláudio Mendonça, Alex Mattos, Carlos Carmelo, José Augusto, J. Carlos Dias, Marcelo Miguel, Odebran, Oltem, Cláudio Luiz, Itacy dos Anjos, J. Ataídes, André Nunes, Paulo R. Guimarães, Luiz Cláudio Carvalho, Severino “Bill”, Glauber B. Rocha, Pedro Danter, Robson Jacques... (definitivamente não há como listar todos...), colegas e conhecidos de percurso que se tornaram grandes amigos;
a Mecso, pelos versos intermináveis no vento;
aos futuros amigos, que, com certeza, hei de encontrar;
a outras tantas pessoas de que não me recordei (momentaneamente) na entrega dos originais para a edição deste livro, minhas mais humildes desculpas.
(Fosse eu mais puro, dedicaria esta obra, por ser minha primeira publicada, logo a todos os seres humanos dos tempos “descalendáricos” da Terra, concordantes ou não comigo; ofertaria aos empáticos, mas também aos apáticos e aos lunáticos, o público cativo de si mesmos - pois que somos, afinal, compreendamos ou não, todos da mesma gigantesca família humana. Como a pureza, entretanto, vai-se diluindo com a vida rude, prefiro deixar aqui registrado somente os humanos mais próximos e mais humanos comigo).